Ideias para o futuro, lançando nosso novo site: um recurso para os interessados em restaurar os ecossistemas de informação na América Latina e no Caribe

Published on março 3, 2025 by The Engine Room

 Autora: Bárbara Paes

Em 2023, o The Engine Room começou a trabalhar em um projeto para contribuir com a construção de ecossistemas de informação mais fortes e saudáveis na América Latina e no Caribe (LAC). Apoiado pela Open Society Foundations, buscamos formas de apoiar organizações da sociedade civil a lidar com as preocupantes tendências relacionadas ao papel das tecnologias digitais na formação dos ecossistemas de informação na LAC: desde a polarização política, a desinformação, a vigilância digital, até os ataques aos meios de comunicação e às pessoas jornalistas.

Desde então, investigamos como a sociedade civil tem atuado para fortalecer esses ecossistemas; facilitamos inúmeros espaços de troca entre organizações de diversos países; e oferecemos apoio prático em tecnologia e dados para dezenas de grupos que trabalham pela restauração dos ecossistemas de informação.

Após a publicação dos resultados da primeira fase do projeto, seguimos ativas com várias iniciativas, como a organização de uma série de eventos online sobre o tema, a realização de um encontro presencial em Santiago com jornalistas, ativistas e organizadores da região, e a criação de um novo site com os aprendizados, histórias e visões coletivas documentadas ao longo do projeto.

Neste blog, compartilho alguns dos principais aprendizados desse encontro em Santiago, além de mais informações sobre o novo site.

Construindo alianças e materializando justiça social através de conversas: aprendizados do encontro em Santiago

Em novembro de 2024, passamos três dias em Santiago do Chile com jornalistas, ativistas e organizadores de 10 países da América Latina e do Caribe. Durante esse tempo, mergulhamos em conversas sobre o estado dos ecossistemas de informação e como as participantes (e suas organizações) estão atuando para restaurá-los.

Com o apoio de uma equipe de intérpretes que facilitou a troca entre participantes de fala portuguesa e espanhola, o grupo compartilhou perspectivas sobre o que está acontecendo em seus contextos e reflexões sobre suas próprias estratégias — além de imaginar coletivamente outras formas de trabalhar juntas para construir ecossistemas de informação mais saudáveis.

Participantes do Encuentro “Restauración colectiva de los ecosistemas de información”, organizado pela The Engine Room em Santiago, 2024.

Foi um verdadeiro privilégio fazer parte desse encontro e aprender com as mentes e práticas incríveis das pessoas presentes! Aqui vão alguns dos principais aprendizados:

“Sobrevivemos juntas”: construindo alianças entre movimentos, buscando romper bolhas políticas

Um cenário crítico de financiamento, o avanço do autoritarismo em vários países, a dependência excessiva de plataformas para comunicação e os desafios das mídias. “Nesse contexto, como manter nosso trabalho?”. A sustentabilidade das organizações que trabalham por ecossistemas de informação mais fortes foi uma das grandes preocupações do encontro.

Pensar na sobrevivência da sociedade civil diante de tantos desafios pode ser difícil. Mas para o grupo reunido em Santiago, imaginar formas de construir alianças sólidas entre movimentos e buscar estratégias colaborativas frente a esses desafios complexos se mostrou um possível “caminho de saída”.

O zine abaixo, criado por um grupo durante a oficina facilitada por Hambre Hambre Hambre, destaca o poder das metodologias criativas aliadas ao humor e às alianças estratégicas entre movimentos. Esse “livro de receitas” mostra como escuta comunitária, imaginação e experimentação narrativa, cuidado coletivo, junto com esperança, diversidade e o esforço para romper bolhas, podem formar estratégias potentes para transformar os ecossistemas de informação.

Poder Jiji: Recetario”, um zine feito por Alharaca, Mutante, Latfem e Proyecto Lava, produzido durante o encontro ‘Restauración colectiva de los ecosistemas de información’, organizado pela The Engine Room em Santiago, 2024.
Ecossistemas de informação desequilibrados prejudicam nossa capacidade de se comunicar: priorizar conversas significativas pode ser um antídoto

Ao longo do encontro, surgiu uma percepção comum de que, para tornar ecossistemas de informação socialmente justos uma realidade, é essencial reconstruir e fortalecer a capacidade das pessoas de terem conversas significativas. Essa ideia também esteve presente na pesquisa que publicamos em agosto de 2024, que teve como inspiração organizações como Mutante, Baudó Agencia Pública, Quid, Mullu TV e Latfem.

Em Santiago, escutamos essas e outras organizações falando sobre como vêm construindo reportagens e espaços de conversa em parceria com suas comunidades e audiências, com o objetivo de ampliar os espaços para o diálogo. Considerando as dinâmicas da economia da atenção e da polarização extrema na região, houve consenso de que precisamos criar espaços que incentivem (e facilitem!) a troca entre pessoas, rompam bolhas ideológicas e acolham perspectivas diversas. E, para isso, é necessário garantir financiamento robusto para essas iniciativas. Essa ideia também se reflete em outro zine feito por participantes da oficina com o Hambre Hambre Hambre:

Compartilhar aprendizados sobre como diferentes organizações estão enfrentando desafios pode fortalecer o ecossistema
Compartilhar aprendizados sobre como diferentes organizações estão enfrentando desafios pode fortalecer o ecossistema

Desde o início do encontro, falamos muito sobre os desafios comuns que enfrentamos nos ecossistemas de informação da América Latina e do Caribe: heranças coloniais e autoritárias, injustiças históricas no acesso à tecnologia e à comunicação, e fenômenos mais recentes como a hiperdependência de plataformas e os efeitos da economia da atenção. Ainda assim, o grupo destacou que esses desafios também se manifestam de formas específicas em cada contexto local, idioma, etc. Reconhecer as diferenças contextuais, sem deixar de ver os elementos em comum, pode fortalecer nosso trabalho. Isso significa reconhecer causas estruturais compartilhadas para o desequilíbrio dos ecossistemas e, ao mesmo tempo, entender que suas consequências variam em cada lugar.

Também ficou claro o quanto podemos aprender ao ver como outras organizações enfrentam desafios semelhantes. Embora copiar estratégias sem considerar o contexto local nem sempre funcione, isso pode abrir caminhos, inspirar e iluminar possibilidades. Em Santiago, ouvindo os experimentos e metodologias das organizações presentes, reforçamos a ideia de que restaurar ecossistemas de informação exige múltiplas estratégias que respondam de forma holística às necessidades informativas das pessoas. Aprender com os experimentos alheios pode nos ajudar nesse caminho.

E com esse espírito de compartilhar aprendizados com intenção: a The Engine Room está lançando um novo site!

Desenvolvido pela agência sustentável WholeGrain Digital, esse novo site é dedicado ao nosso trabalho sobre a restauração dos ecossistemas de informação e apresenta:

  • Um panorama dos achados da nossa pesquisa e uma análise de estratégias já implementadas por organizações da sociedade civil na região.
  • Uma visão coletiva e em construção de como ecossistemas de informação saudáveis e robustos podem ser na América Latina e no Caribe.
  • Inspiração e caminhos de apoio para organizações da sociedade civil, grupos ativistas, jornalistas e outros — tanto na região quanto fora dela.
  • Contribuições originais de pessoas incríveis que estiveram conosco em Santiago, incluindo textos de Laura Sofía Mejía (Baudó Agencia Pública), Haydeé Quijano (SocialTIC), Indhira Suero (Sembramedia), Gisel Sánchez (Vita Activa), Aída Naxhielly (La Sandía Digital), Adriana González (Proyecto Lava), Maíra Berutti (Quid) e Bianca Pedrina (Nós, Mulheres da Periferia).

Esperamos que o novo site seja útil para quem trabalha pelo fortalecimento dos ecossistemas de informação!

Mas antes de mandá-los explorar essa coleção de recursos, gostaria de agradecer a algumas pessoas! Primeiramente, aos brilhantes profissionais que tornaram nosso encontro em Santiago tão proveitoso – Adriana Gonzalez, Agustina Paz, Aída Naxielly Espíndola, Bianca Pedrina, Denisse Menjívar, Desirée Yepez (que não pôde comparecer pessoalmente, mas cujo trabalho é sempre uma inspiração! ), Gisel Sánchez, Haydee Quijano, Indhira Suero, Karen Parrado, Laura Sofia Mejía e Maira Beirutti -, bem como àqueles que contribuíram para o projeto de pesquisa. Em segundo lugar, um enorme agradecimento a toda a equipe do The Engine Room, especialmente àqueles que trabalharam de uma forma ou de outra para dar vida a este projeto, incluindo: Jen Lynn, Olivia Johnson, Cristina Veléz Vieira, Helen Kilbey, Candy Rodríguez, Jeff Deutch, Quito Tsui, Nathaly Espitia Díaz, Denisse Albornoz, Paola Mosso, Clo Villalobos e Gillian Williams.

E agora, finalmente, convido você a explorar este novo site focado em ecossistemas de informação na América Latina e no Caribe!

A The Engine Room adoraria saber o que você achou do site. Fale com a equipe pelo e-mail: hello@theengineroom.org.