O Instituto Lamparina criou estratégias de narrativas para causas de justiça social no Brasil que combinam campanhas digitais e cultura pop com uma forte presença em espaços físicos.

Sua campanha, Juízas Negras Para Ontem, coordenou exposições de arte nas ruas de todo o Brasil para criar uma mobilização em torno da demanda de ter a primeira juíza negra do Brasil no Supremo Tribunal Federal – uma necessidade urgente dos movimentos locais de justiça social, já que o governo do Brasil é composto por uma maioria de homens brancos.

Gabi Juns, diretora e co-fundadora, explica as idéias por trás dessa campanha:

Nossa ideia não é focar em campanhas puramente digitais… percebemos que podemos ter um impacto maior nas emoções das pessoas quando coisas reais acontecem. [Não focar exclusivamente em espaços digitais] traz esse senso de realidade. O [espaço] digital está em uma disputa cultural de desinformação, desconfiança e assim por diante.

Mas quando vamos para a rua, construímos confiança no digital. Percebemos que às vezes ações muito simples, como colar um cartaz nos muros da cidade e ter uma foto disso nos jornais – quando temos [algo como esses cartazes destacados no] jornal, [a campanha] tem muito mais impacto do que [quando nada é] feito offline.

Às vezes, coisas muito simples trazem um senso de “isso é real, isso está acontecendo”, e isso comove [os leitores]. É menos para as pessoas que passam pela rua e mais para [o impacto] de ter uma imagem de [uma intervenção na] vida real acontecendo.

Seus murais, com obras de arte de 24 artistas e reproduzidos em várias cidades do Brasil, chamaram a atenção da mídia. A curadora do Juízas Negras Para Ontem, Nina Viera, explica como o projeto possibilitou que essa questão – há muito tempo uma preocupação dos movimentos de justiça social – entrasse na mídia tradicional e no “imaginário” nacional.

Esse projeto utilizou o espaço físico (bem como a multimídia) para transmitir a conscientização sobre uma questão a novos públicos, invocando novas representações de mulheres negras na mídia e provocando conversas públicas.

O impacto dessa campanha foi possível devido ao fato de que outras organizações brasileiras também estavam fazendo campanhas ao mesmo tempo com os mesmos objetivos. Entre elas estavam a Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco, duas organizações lideradas por mulheres negras que têm trabalhado para aumentar a participação política das mulheres negras.